A falsa religião é engendrada no laboratório do enganoso coração humano. Como declarou João Calvino, nas Institutas da Religião Crista, o coração do homem é uma fábrica de ídolos. Um exemplo clássico dessa triste realidade é o rei Jeroboão. Ele foi escolhido por Deus para ser o agente da disciplina divina ao rei Salomão. Este, a despeito de sua notória sabedoria e afamada riqueza; inobstante ter construído o templo de Jerusalém e liderado o povo na adoração a Deus, deixou o seu coração se corromper e acabou erigindo capelas aos deuses de suas mulheres estrangeiras e ele mesmo se prostrou diante de divindades pagãs.
O profeta Aías encontra o jovem Jeroboão, servo de Salomão, e revela a ele que Deus lhe daria dez das doze tribos de Israel. Exortou-o a ser fiel a Deus e à sua aliança, com garantia de que Deus lhe daria uma casa segura, uma dinastia sucessória bem-sucedida. Ao saber dessa profecia, Salomão tentou matar Jeroboão, que precisou buscar asilo político, sob as asas de Sisaque, rei do Egito. Ao tomar conhecimento da morte de Salomão e coroação de seu filho Roboão, Jeroboão retorna a Israel e lidera as dez tribos do norte, com reivindicações ao novo monarca. Queriam alívio dos pesados tributos e a suspensão de trabalhos forçados. Prometeram em contrapartida que se submeteriam ao rei. Roboão, entrementes, seguindo a inclinação de seu coração soberbo, não apenas deixou de atender os rogos do povo, mas prometeu ser ainda mais severo de que seu pai. Essa foi a gota d’água para o rompimento das dez tribos do norte com a dinastia davídica e a consequente coroação de Jeroboão como rei sobre eles.
Jeroboão ao assumir o governo, com medo de seus súditos voltarem a Jerusalém para adorar e temendo pela sua própria sobrevivência, caso seu povo se voltasse para a dinastia davídica, cria em Israel uma nova religião, com uma nova divindade (bezerros de ouro), com novos templos, com novos locais de adoração (Betel e Dã), com novos sacerdotes, com nova liturgia e com novo calendário religioso. Essa inovação foi feita segundo o bel-prazer do rei. Era a religião da conveniência, para garantir os interesses políticos do monarca. Essa falsa religião inventada por Jeroboão foi a estrada escorregadia por onde todos os demais reis do reino do norte caminharam e caíram. Todos eles andaram nos caminhos de Jeroboão. Todos se tornaram idólatras e jamais se voltaram para o Senhor. Essa falsa religião idólatra e sincrética foi a causa principal do declínio vertiginoso desse reino e a razão determinante de sua queda em 722 a.C., nas mãos do império assírio. Jeroboão tornou-se o patrono dos políticos que usam a religião para se beneficiarem e alcançar seus interesses inconfessos.
A falsa religião é, ainda hoje, uma ameaça aos governantes e aos governados; é a causa da decadência dos povos e a da manifestação da justa ira de Deus. Falsos deuses, falsos templos, falsos cultos, falsos sacerdotes, falsas liturgias, falsos calendários religiosos produzem falsos adoradores. A falsa religião é uma religião humanista, inventada pelo homem e não revelada por Deus; procede do coração humano e não das Escrituras Sagradas; produz idolatria e depravação moral e não santidade; provoca a ira de Deus e não o seu agrado. A falsa religião pode ser popular, mas jamais verdadeira; pode ser funcional, mas jamais agradável a Deus; pode reunir multidões, mas jamais oferecerá esperança.
A verdadeira religião não é criada pelo homem, mas revelada por Deus. O verdadeiro Deus não é feito pelas mãos humanas, mas é o criador, provedor e redentor. O verdadeiro culto não é mediado por imagens fabricadas pelo engenho humano, mas em espírito e em verdade. Os verdadeiros sacerdotes não são constituídos por vontade humana, mas separados por Deus para essa sacrossanta vocação. A liturgia do culto não é realizada segundo a criatividade do homem, mas conforme as prescrições da palavra de Deus. O calendário religioso não é alterado segundo a conveniência humana, mas determinado pelo próprio Deus. A falsa religião é uma estupidez. Dela devemos fugir para adorar ao único Deus vivo e verdadeiro, digno de toda adoração e louvor.
Rev. Hernandes Dias Lopes
Em Cristo,
Mário César de Abreu