
A decadência moral de uma civilização é um dos últimos sinais que evidenciam que todos os demais valores daquela sociedade já foram derrubados. Foi assim com praticamente todas as civilizações históricas e assim continua sendo em nossos dias. Quando a sociedade se entrega desenfreadamente às suas paixões carnais, e a busca pela satisfação dos sentidos, sua queda está próxima. Francis Schaeffer diz mais sobre a Roma antiga: “Roma não caiu devido a alguma força externa, tal como a invasão dos bárbaros. Roma não tinha suficiente base interna; os bárbaros só deram o empurrão final para o colapso – e gradualmente Roma tornou-se ruínas.”[2] A desmoralização de uma sociedade é o sinal de que suas bases estruturais já foram derrubadas e que sua queda completa é apenas uma questão de tempo.
No entanto, a imoralidade de Pompeia e do Império Romano não estavam restritos à sexualidade, mas também envolviam a justiça social. Quanto mais a economia romana decaia, o fardo da inflação e impostos crescia sobre o povo. O trabalho escravo conseguiu cada vez mais força e as liberdades individuais foram cada vez mais enfraquecidas.

Durante a decadência moral do Império Romano, a princípio a igreja resistiu às tentações com grande bravura, fazendo com que milhares de cristãos fossem mortos das formas mais terríveis e até mesmo passando as suas mortes a serem usadas como espetáculos para entretenimento do povo, e muitas vezes seus corpos em chama foram utilizados como tochas para iluminação públicas das cidades.
No entanto, logo a igreja cedeu aos encantos da ganância e da imoralidade. Com o reconhecimento da igreja como religião oficial do Estado Romano, esta enfraqueceu moralmente diante dos privilégios e favores do estado, e tornou-se o centro da disputa pelo poder político e religioso dos reis e líderes cristãos. Em sua arrogância tornou-se voltada apenas para si mesma, esqueceu-se da santidade e da justiça social e tornou-se intolerante.
O historiador Earle E. Cairns escreveu: “Infelizmente a Igreja ganhou em poder, mas se tornou arrogante perseguidora do paganismo do mesmo modo que as autoridades religiosas pagãs tinham agido em relação aos cristãos. Parece que no balanço final, a aproximação entre a Igreja e Estado trouxe mais malefícios do que bênçãos à Igreja Cristã.”[3] Dentro da igreja o caos era imenso, desde heresias das mais diversas, toda sorte de imoralidade sexual, abuso do poder e dos bens da igreja, negligência para com os pobres e injustiçados e uma incansável disputa pelo poder. A espiritualidade, outrora presente na vida dos cristãos primitivos, havia desaparecido do meio da igreja naqueles dias. Era extremamente difícil encontrar um só soberano, legislador, ou qualquer autoridade temporal ou religiosa que não fosse um herege ou um pagão. O que observamos na história é que a igreja deixou de exercer seu papel profético e passou a ser profundamente influenciada pelo paganismo, não só no estilo de vida imoral, na corrupção, na falsidade religiosa, e, até mesmo a liturgia da igreja sofreu os efeitos desta queda terrível.

No entanto, mesmo diante de todas as conquistas da Reforma Protestante, tanto a sociedade como a igreja embarcaram num retrocesso social, religioso e político lamentável. A imoralidade sexual, a injustiça social, as aberrações teológicas, os abusos do poder e dos recursos da sociedade e da igreja se aproximam daquilo que foi vivenciado em toda Roma antiga.

Desejo concluir este texto com uma breve avaliação sobre a igreja nestes dias de decadência. Nunca vivemos tão aquém do ideal de Deus para a sua igreja, onde substituímos nossa missão de ser luz através da pregação das Escrituras Sagradas, de uma ação prática que demonstra o amor de Deus para com povos do mundo e uma vida santa que se afasta e denuncia toda sorte de pecado moral, social e injustiças contra os mais fracos. A igreja substituiu este ideal de Deus por uma postura megalomaníaca de construção de templos cada vez maiores, de ajuntamento de massas, de shows, de busca por riqueza e bens terrenos e por uma vida cada vez mais luxuosa. Veja o que escreveu o filósofo francês Gilles Lipovetsky sobre a espiritualidade destes dias: “Já nem a religião constitui um contrapoder face ao avanço do poder do consumo-mundo. Ao contrário do que se verificava no passado, a Igreja já não privilegia as noções de pecado mortal, já não exalta o sacrifício ou a renúncia. [...] De uma religião centrada na salvação no Além, o cristianismo passou a ser uma religião ao serviço da felicidade terrena, colocando a ênfase nos valores da solidariedade e do amor, na harmonia, na paz interior, na realização total da pessoa.”[4]

É importante observar também que Jesus nos alertou sobre a gravidade dos últimos dias, veja o que disse: “[...] Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18:8). Os pregadores da fé e da prosperidade, que são justamente aqueles que engordam as custas da igreja, pregam o contrário de Jesus, no entanto a realidade é esta, os últimos dias serão marcados por escassez de fé. O mesmo disse Paulo: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” (2 Tm 4:3-4). O tempo da escassez da fé genuína e dos ouvidos voltados às fabulas já chegou, veja o que disse Lipovetsky: “Hoje, até a espiritualidade funciona em livre-serviço, na expressão das emoções e dos sentimentos, na procura resultante da preocupação com o melhor-estar pessoal [...]”.[6]

Rev. Luis A R Branco Fonte:http://verdadenapratica.wordpress.com/
Em Cristo,
Mário
Citações:
[1] SCHAEFFER, Francis. Como Viveremos: Uma analise das características de nossa época em busca de soluções para os problemas desta virada de milênio. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, pág. 17.
[2] Idem, pág. 18.
[3] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: Uma História da Igreja Cristã. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1990, pág. 101.
[4] LIPOVETSKY, Gilles. A Felicidade Paradoxal: Ensaio Sobre a Sociedade do Hiperconsumo. Lisboa: Edições 70, pág. 111-112.
[5] Idem, pág. 112.
[6] Ibidem, pág. 113.
Citações:
[1] SCHAEFFER, Francis. Como Viveremos: Uma analise das características de nossa época em busca de soluções para os problemas desta virada de milênio. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, pág. 17.
[2] Idem, pág. 18.
[3] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: Uma História da Igreja Cristã. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1990, pág. 101.
[4] LIPOVETSKY, Gilles. A Felicidade Paradoxal: Ensaio Sobre a Sociedade do Hiperconsumo. Lisboa: Edições 70, pág. 111-112.
[5] Idem, pág. 112.
[6] Ibidem, pág. 113.
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